Indivíduo sitiado – indivíduo coisificado


Representaçãodo Orún e do Aiye (imagem retirada do site http://www.alquimistica.com.br/Mitologias/Afro-Brasileira/afrobasileiro.html)

Relações construídas anteriormente na minha vida estão trazendo inúmeros prejuízos. Principalmente porque, de forma até um tanto ingênua, acreditava em uma verdadeira cumplicidade. As minhas leituras e estudos conduziram-me para ter uma visão utópica, no sentido dado pelo Zygmunt Bauman: estar descontente e incomodado com o mundo atual e acreditar na possibilidade de se construir outro. O maior problema é a crença em construir outro mundo, principalmente levando-se em conta que isto é uma tarefa coletiva.

Por que problema? Porque tarefa coletiva exige despreendimento, companheirismo, cumplicidade, tudo o que não se vê hoje. Não estou nem falando das relações amorosas, e sim estabelecidas na sua vida cotidiana. Co-responsabilidade é a palavra mais adequada. No serviço, disputas mesquinhas se sobrepõe a uma organização coletiva do trabalho para que ele seja eficiente e poupe energias dispendidas a toa. Nos projetos coletivos que participamos, vemos muito mais uma disputa de ego e interesses pessoais sendo colocados acima dos coletivos. O resultado de tudo isto é a instrumentalização das ações humanas.

Aconteceu um problema complicado comigo hoje produto de um projeto que participei anos atrás quando estava a frente de uma organização. Estou encaminhando a resolução do problema mas me assusta a postura das pessoas que estão em torno disso – “vire-se”, é o que mais se entende das falas. Sequer conversar sobre – uma sequer permitiu que eu terminasse a fala para dizer que estava triste porque não sei quem estava doente; outra não responde; a maioria foge. E, de tempos em tempos, ligam pedindo a colaboração de alguma coisa.

Procuro sempre retirar lições destas experiências negativas. Olho para determinadas pessoas que, quando me encontra, abraçam-me e dizem estar com saudades. No fundo dos olhos, vejo pitadas de oportunismo combinados com pouco ou nenhum esforço para compreender o outro. Como é possível construir um trabalho coletivo visando a mudança deste mundo se as próprias pessoas reproduzem, em seus comportamentos cotidianos, práticas individualistas?

Uma repórter da Band Bahia está sendo punida pela emissora por conta de uma matéria absurda e preconceituosa veiculada no programa Brasil Urgente. Medida importante, mas infelizmente a tal Mirella Cunha só existe porque esta cultura individualista sedimentou na cabeça de muitos novos profissionais um pragmatismo irresponsável a ponto de taxar qualquer um que queria exigir responsabilidade social e ética como pessoa chata, saudosista dos anos 1960 e irrealista.

Há muito o que fazer, mas o mundo é sempre uma permanente construção/desconstrução.

4 opiniões sobre “Indivíduo sitiado – indivíduo coisificado

  1. Olá Dennis,

    Penso que tudo que se faz tem efeitos colaterais e da frutos, cedo ou tarde, tanto os positivos quanto os negativos. Consequentemente aqueles que deixaram o “soldado” companheiro de batalha para trás fatalmente colheram os seus frutos, é a lei da natureza ” ação e reação”.
    E cabe a nós o duro exercício da paciência para sair de perto, cheio de lesões é claro, e deixar que o tempo se encarregue desses estorvos da natureza, enquanto nos ocupamos com novas batalhas.

    Abraço
    Carlos Freitas

  2. Olá prof. Dennis,
    O individualismo realmente assusta, quando não dói, magoa. Quando isso ocorre, o melhor é deixar o tempo correr e apagar isso tudo. O dia seguinte chega e a caminhada é retomada e, algumas vezes de forma coletiva. Assim, restabelecendo o equilibrio de nossas forças e valores de ser humano.
    Fique bem,
    Vera

  3. A poucos dias escrevi um pequeno texto que denominei de “Sinais”. Neste texto colocava uma conversa que tive com uma pessoa que visivelmente e descaradamente mentia no sentido de evitar a minha presença em uma atividade, devido ao altíscimo grau de comprometimento que tenho com os movimentos sociais e isto iria atrapalhar os interesses deles.
    Bem ao ler seu texto, vejo e com todo o respeito identifico, mesmo de longe a pessoa de quem falas sobre o acontecimento, pois quando conheci esta e estas pessoas, diziam e gritavam uma coisa sobre a inclusão do povo negro, hoje, estes se ajoelham e rastejam para poder comer.
    Mas quero lhe dizer que vc junto com Juarez, Salaciel e outros, podem se orgulhar do que construíram e do que passaram para pessoas que ainda acreditam em um novo país e praticam com seriedade os ensinamentos destes mestres.
    Forte abraço e beijo no coração com muito respeito, daquele que ainda acredita e luta por uma sociedade sem racismo neste país e com inclusão do povo negro, sem perda de sua identidade e ética.
    Àse.

  4. Dennis,
    gostei do seu texto. vc definiu mto bem a disputa do ego acima dos interesses coletivos. mas relações amorosas as x são construidas no cotidiano, tb. por q vc se surpreende com atitudes
    q já conhecia? é difícil encontrar um poeta, um sonhador, q com certeza vc é e sabe disso.
    contudo, os adjetivos enunciados, saudosista, etc, ñ cabem na sua descrição. vc se defende.
    o individualismo é controverso e o cotidiano do planeta tb, além da tremenda dinâmica de passes.
    use a sua melhor arma como usou aqui: a palavra. ela é controversa, dinâmica mas assim q vc a
    liberta, pertence a coletividade. a intimidade com q vc desliza e faceia o texto sempre será um benefício ao todo! gostei muito.
    obs: vou deixar 1 mail fictício, estou cansada e vou dormir. foi um prazer passar aqui, talvez outra h eu volte. vou colocar vc nos favoritos. tchau!

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